terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Conselho Federal condena a volta de ''deputado da meia'' ao cargo


Do jornal O Estado de S. Paulo

02/01/2010 - Classificando o ato de "descaso indescritível", a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) condenou o retorno do deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido) à presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Prudente é um dos principais envolvidos no esquema de corrupção no governo do DF revelado pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que ficou conhecido como mensalão do DEM. Ele protagonizou uma das imagens mais emblemáticas do escândalo, em que guarda maços de dinheiro nas meias.

"O gesto do deputado Leonardo Prudente, de reassumir a presidência da Câmara Distrital do DF, como se simplesmente inexistisse o escândalo de que é um dos principais protagonistas, é de um descaso indescritível, que ofende a consciência cívica da sociedade brasileira. O pior pecador é o que celebra em triunfo os seus próprios pecados", afirma a entidade, por meio de nota assinada pelo seu presidente, Cezar Britto.

Por conta do escândalo, que gerou uma verdadeira enxurrada de pedidos de impeachment do governador do DF, José Roberto Arruda, e o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os deputados envolvidos no episódio, Prudente havia se licenciado da presidência da Casa por tempo indeterminado. Mas em uma reviravolta política, o deputado reviu sua decisão e na quarta-feira confirmou que vai reassumir a presidência da Câmara em 11 de janeiro, na volta do recesso. É ele, portanto, quem vai conduzir os processos de instalação da CPI da corrupção na política do DF e de impeachment de Arruda.

"Não poderia haver desfecho mais lamentável para o 2009 do contribuinte brasiliense, lesado em ações fraudulentas por políticos como Prudente, eleitos para defendê-lo e representá-lo", diz a OAB, que protocolou pedido de impeachment de Arruda logo que o escândalo veio à tona. "A OAB lastima esse gesto e informa que continuará lutando em todas as frentes para que os agentes públicos envolvidos no Mensalão de Brasília respondam por seus crimes e sejam exemplarmente banidos da vida pública brasileira", diz a nota da entidade.


Dinheiro nas meias

Prudente havia se afastado do cargo após a revelação do vídeo em que recebe dinheiro das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais do governo do DF, Durval Barbosa. Pressionado, Prudente pediu desfiliação do DEM.

Nos vídeos gravados por Barbosa, apontado como o responsável pela arrecadação de dinheiro entre empresas que mantinham contratos com o governo e pela distribuição dos pagamentos a integrantes do esquema, o deputado aparece escondendo dinheiro nos bolsos da calca, do paletó e nas meias.

As imagens mostram os bastidores do chamado mensalão do DEM e a divisão do dinheiro que, de acordo com a investigação, era proveniente de propina paga por empreiteiras e prestadoras de serviço. Outros deputados e aliados políticos de Arruda aparecem embolsando dinheiro e falando abertamente sobre o esquema. Barbosa resolveu revelar o esquema após fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público, que pode lhe garantir redução de pena em caso de condenação judicial.

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